Antologia: do grego anthos, flor, e lego, escolher, o que veio a dar florilégio - é sinónima de colectânea, compilação, miscelânia, florilégio, analectos, selecta e crestomatia.
31 de janeiro de 2010
Porque escondes a noite no teu ventre?
Porque escondes a noite no teu ventre?
Nesse país de sombra onde se calam as palavras.
Aí, no escuro lago onde estremece a flor da amendoeira
E onde vão morrer todos os cisnes.
Eu desvendo a tua dor, o teu mistério
De caminhares assim calada e triste,
Quando viajo em ti com as mãos nuas e o coração louco
No mais fundo de ti, onde só tu existes.
Oh, eu percorro as tuas coxas devagar
Dobrando-as lentamente contra o peito
E penetro em delírio a tua noite
Esporeando éguas no teu sangue.
De onde me chegam estas palavras?
Joaquim Pessoa
30 de janeiro de 2010
29 de janeiro de 2010
Poema Sobre a Recusa
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva.
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda.
Maria Teresa Horta
28 de janeiro de 2010
O tempo
O tempo tem aspectos misteriosos:
Um ano passa a toda a velocidade,
E um minuto, se estamos ansiosos
Parece, às vezes, uma eternidade.
Um dia ou é veloz ou pachorrento
-depende do que está a contecer-
O tempo de estudar, pode ser lento.
O tempo de brincar, passa a correr.
E aquela terrível arrelia
Que até te fez chorar, por ser tão má,
deixa passar o tempo. Por magia,
Quando olhamos para trás, já lá não está.
Rosa Lobato Faria
27 de janeiro de 2010
26 de janeiro de 2010
Pó
Nas estantes os livros ficam
(até se dispersarem ou desfazerem)
enquanto tudo passa.
O pó acumula-se e depois de limpo
torna a acumular-se no cimo das lombadas.
Quando a cidade está suja (obras, carros, poeiras)
o pó é mais negro e por vezes espesso.
Os livros ficam, valem mais que tudo,
mas apesar do amor
(amor das coisas mudas que sussurram)
e do cuidado doméstico fica sempre, em baixo,
do lado oposto à lombada,
uma pequena marca negra do pó nas páginas.
A marca faz parte dos livros.
Estão marcados.
Nós também.
Pedro Mexia
25 de janeiro de 2010
23 de janeiro de 2010
22 de janeiro de 2010
21 de janeiro de 2010
20 de janeiro de 2010
19 de janeiro de 2010
18 de janeiro de 2010
17 de janeiro de 2010
16 de janeiro de 2010
15 de janeiro de 2010
14 de janeiro de 2010
13 de janeiro de 2010
12 de janeiro de 2010
As pequenas palavras
De todas as palavras escolhi água,
porque lágrima, chuva, porque mar
porque saliva, bátega, nascente
porque rio, porque sede, porque fonte.
De todas as palavras escolhi dar.
De todas as palavras escolhi flor
porque terra, papoila, cor, semente
porque rosa, recado, porque pele
porque pétala, pólen, porque vento.
De todas as palavras escolhi mel.
De todas as palavras escolhi voz
porque cantiga, riso, porque amor
porque partilha, boca, porque nós
porque segredo, água, mel e flor.
E porque poesia e porque adeus
de todas as palavras escolhi dor.
Rosa Lobato de Faria
11 de janeiro de 2010
10 de janeiro de 2010
Podes ficar aqui?
9 de janeiro de 2010
8 de janeiro de 2010
Já não há domingos
Todas as vidas gastei
para morrer contigo.
E agora
esfumou-se o tempo
e perdi o teu passo
para além da curva do rio.
Rasguei as cartas.
Em vão: o papel restou intacto.
Só os meus dedos murcharam, decepados.
Queimei as fotos.
Em vão: as imagens restaram incólumes
e só os meus olhos se desfizeram, redondas cinzas.
Com que roupa
vestirei minha alma
agora que já não há domingos?
Quero morrer, não consigo.
Depois de te viver
não há poente
nem o enfim de um fim.
Todas as mortes gastei
para viver contigo.
Mia Couto
7 de janeiro de 2010
6 de janeiro de 2010
Indiferença
Hoje, voltas-me o rosto, se ao teu lado
passo. E eu, baixo os meus olhos se te avisto.
E assim fazemos, como se com isto,
pudéssemos varrer nosso passado.
Passo esquecido de te olhar, coitado!
Vais, coitada, esquecida de que existo.
Como se nunca me tivesses visto,
como se eu sempre não te houvesse amado
Mas, se às vezes, sem querer nos entrevemos,
se quando passo, teu olhar me alcança
se meus olhos te alcançam quando vais.
Ah! Só Deus sabe! Só nós dois sabemos.
Volta-nos sempre a pálida lembrança.
Daqueles tempos que não voltam mais!
Guilherme de Almeida
4 de janeiro de 2010
Tu serás
3 de janeiro de 2010
2 de janeiro de 2010
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