12 de fevereiro de 2010

A Nau Catrineta


Lá vem a nau Catrineta,
Que tem muito que contar!
Escutai–me bem atentos,
Que esta história é de pasmar.

Passava mais de ano e dia
Que iam na volta do mar,
Já não tinham que comer,
Já não tinham que manjar.
Deitaram sola de molho
Para o outro dia jantar;
Mas a sola era tão rija
Que a não puderam tragar.
Deitam sortes à ventura
Qual se havia de matar;
Logo foi cair a sorte
No capitão-general.

– Sobe, sobe, marujinho,
Àquele mastro real,
Vê se vês terras de Espanha,
Areias de Portugal.
– Não vejo terras de Espanha,
Nem praias de Portugal;
Vejo sete espadas nuas,
Que estão para te matar.
– Acima, acima, gajeiro,
Acima, ao tope real!
Vê se vês terras de Espanha,
Areias de Portugal.
– Alvíssaras, capitão,
Meu capitão-general!
Já vejo terras de Espanha,
Areias de Portugal.
E lá vejo três meninas
Debaixo dum laranjal:
Uma sentada a coser,
Outra na roca a fiar,
A mais formosa de todas
Está no meio a chorar.
– Todas três são minhas filhas,
Oh quem mas dera abraçar!
A mais formosa de todas
Contigo a hei-de casar.
– A vossa filha não quero,
Que vos custou a criar.
– Dar-te-ei tanto dinheiro
Que não o possas contar.
– Não quero o vosso dinheiro
Que vos custou a ganhar.
– Dou-te o meu cavalo branco,
Que nunca houve outro igual.
– Não quero o vosso cavalo
Que vos custou a ensinar.
– Dar-te-ei a nau Catrineta,
Para nela navegar.
– Não quero a nau Catrineta,
Que não a sei governar.
– Que queres tu, meu gajeiro,
Que alvíssaras te hei-de dar?
– Capitão, quero a tua alma
Para comigo a levar.
– Renego de ti, demónio,
Que me estavas a tentar!
A minha alma a Deus pertence,
O corpo dou eu ao mar.

Tomou-o um anjo nos braços,
Não o deixou afogar.
Deu um estouro o demónio,
Acalmou-se o vento e o mar,
E à noite a nau Catrineta
A bom porto foi parar.


Romance Popular